divendres, 26 de setembre del 2008

ph Camaleoa
O cenário é nagativamente oposto ao que se instalou quando o mural foi feito. Naquele momento a praça voltou a ser ponto de encontro e convívio dos cidadãos, acima de cronologias, idades e situação social. A praça foi fotografada em imagens que correram mundo, tornou-se locação de filmagens...

Agora um estranho brinquedo inflável cobre parte do mural que mostra o antigo Hotel Municipal.

Vazia a praça - em que pese a linda e ensolarada tarde de domingo daquele mês de agosto - a bizarrice também ocupa grande parte do espaço público, este espaço pelo qual os cidadãos pagam taxas e que deveria ser plenamente disponibilizado, além de ser respeitado pelos tais poderes públicos.

dijous, 25 de setembre del 2008



Criado em 1996 por mim, Eduardo Barrox, e pelos artistas plásticos Marcio Zago e Inácio Rodrigues, o mural da praça da Matriz em Atibaia sofre com a ação do tempo e, principalmente, com o descaso dos responsáveis pela conservação do patrimônio cultural da cidade.
A pintura exibe a fachada do Hotel Municipal de Atibaia, demolido em meados da década de 70 do século passado. Sua execução foi proposta atendendo solicitação da prefeitura - o prefeito era o senhor Flavio Calegari - naquele ano de 1996. A idéia foi escolhida entre outras proposições de outros artistas e foi realizada num período inferior a um mês, sendo entregue em setembro daquele ano.
A proposta era justamente a de resgatar alegremente um período da história da cidade e a própria realização deste trabalho rendeu emoções transmitidas aos autores por pessoas que iam à praça contar histórias do passado e de suas próprias aventuras e emoções.
Obviamente uma pintura colocada a céu aberto está sujeita à ação do tempo e necessita de um mínimo de cuidados em sua conservação, mas o mural da praça também sofre com a falta de zêlo possivelmente provocada pela reles especulação imobiliária - a casa vizinha à praça onde se localiza a pintura está à venda e a natureza que às vezes se opõe às más ações do homem desta vez está sendo responsabilizada pela iminente queda do muro que serve de suporte à pintura.
O que é um absurdo, diga-se, porque a chamada civilização (ou parte dela) já descobriu meios de preservar a natureza ao mesmo tempo em que pode evitar que a natureza provoque danos ao contexto cultural da cidade.
Por natureza nesse caso entenda-se uma árvore localizada no terreno vizinho, que não só está sendo equivocadamente responsabilizada pela destruição do muro, como também será vítima da ação predatória do homem tão logo o combalido imóvel seja comercializado e posteriormente colocado abaixo (junto com a árvore e o muro que abriga a pintura).
Recentemente, num domingo de agosto, estive na cidade e me deparei com a péssima situação do mural.
Além de estar prestes a cair, a pintura encontra-se em péssimo estado e a própria praça - que, por tese, deveria ser o lugar do encontro - aparentava o ar decadente do abandono, além de ser obrigada a aturar um bizarro brinquedo também jogado às moscas.
As fotografias acima, realizadas pela jornalista e escritora Camaleoa, mostram a falta de cuidado com o equipamento público: a placa que indica e deveria informar está pixada e ainda serve de suporte para o adesivo de políticos candidatos à prefeitura.
É de se imaginar que se agem assim enquanto candidatos, o que não farão se circunstancialmente eleitos.
Os comerciantes ao redor da praça parecem também não perceber o vazio existencial que a praça abandonada estabelece...
No mesmo dia encontrei casualmente um vereador local que me disse que a idéia lá deles é propor a compra do imóvel pela prefeitura, derrubar a tal casa (e o muro) e depois NOS chamar para refazer o trabalho.
Por mais que ser pago para realizar trabalhos desse teor seja bom, também soa estranho. Considerando que nós - os artistas que criamos a pintura - não temos um contrato vitalício com a prefeitura e particularmente eu nunca fui procurado para tratar do assunto.
Além disso o trabalho custou na época valores aos cofres municipais e tornou-se referência da cidade de Atibaia, inclusive no exterior.
A tarefa essencial do político deveria ser de preservar a identidade cultural sem ficar querendo jogar dinheiro fora.
E particularmente acho exorbitante o preço que se pede por aquela construção podre. 'É pela localização', me dizem as polianas. Mas, também é minha opinião estritamente pessoal, se a prefeitura quisesse mesmo revitalizar aquele ponto importante da cidade, o ideal seria estabelecer um preço justo para o imóvel há tantos anos abandonado e transformá-lo também num ponto de visitação cultural. E de preferência sem precisar derrubar muros e lembranças.
Não exatamente por ser um dos autores do mural, mas não concordo que uma obra de arte mereça este tratamento; assim como não acho que uma cidade tenha que ser assim desrespeitada.
Principalmente quando tem jovens políticos ocupando o poder principal, principalmente quando se diz que a idéia é modernizar a instituição da cultura.
Aliás, não sei de onde se tira a idéia (política?) de que modernizar o que quer que seja inclui a sua destruição.

Estrear este blog é uma forma de protesto e como não consultei aos co-autores do trabalho, assumo a responsabilidade pelas informações aqui contidas.
Esta parte da cidade, a praça da Matriz, o ponto de ligação entre duas igrejas historicamente importantes, o lindo caminho das Congadas, está abandonado.
Espero que seja visto, lido, respondido e que possa ajudar a praça a ser novamente o ponto de encontro do povo, da poesia e da alegria.

São Paulo, 25 de setembro de 2008

Eduardo Barrox
fotógrafo, designer gráfico, artista plástico, escritor
e editor das publicações
Café Literário e Jornal da Praça/Sábado